domingo, abril 24, 2011

O que aconteceu com o behaviorismo?

Estava eu, em casa, num sexta-feira, quando me é passado um arquivo. No começo do texto fiquei perplexo, deixe-me explicar o por que.

Há exatamente uma semana antes deste arquivo, tinha assistido uma aula de Psicologia em Yale (sem fantasiar gente, pelo youtube - passaria o link mas acho perda de tempo) com o Cognitivista reconhecidíssimo Paul Bloom. Eis o que ele disse no final da aula sobre o Behaviorismo:

- So, behaviorism as a dominant intelectual field has faded. But still leaves behind an important legacy.

- Então, behaviorismo como um campo intelectual dominante desapareceu. Mas ainda deixa para trás um importante legado.

O texto que tinha acabado de me ser passado dizia a mesma coisa e o autor era também americano. Logo pensei, WTF? No seu berço de nascença (EUA) o behaviorismo morreu e aqui no Brasil aparenta estar mais forte do que nunca? WTF?

Para mostrar que não estou mentindo, um recorte:
"Afinal, o behaviorismo não saiu de cena? Não vivemos nós na idade da revolução cognitiva, que ainda mantém o seu ímpeto e domina a maioria das subáreas da psicologia?" (Roediger, 2004, p.1).

A minha teimosia foi o que fez eu continuar lendo, afinal e citando o Mestre Sagan, afirmações extraordinárias demandam explicações extraordinárias. O meu pensamento era, "quero ver esse cara provar essa besteira que ele está falando".

E adentrei a leitura, armado com tanques de guerra para proteger a minha tão sagrada contingência.

De repente confesso certa confusão:

Em 1913, nove anos após o nascimento de Skinner, John B. Watson publicou o seu famoso artigo “Psychology from the stand point of a Behaviorist” [Psicologia do ponto de vista de um Behaviorista] na Psychological Review. Ele era breve, mas poderoso. Watson dizia que a psicologia deveria livrar-se do estudo introspectivo de eventos mentais que não eram diretamente observáveis – imagética, memória, consciência e etc. – e estudar o comportamento. Watson subscrevia a declaração de Walter Pillsbury de que “a psicologia é a ciência do comportamento” e ia além ao dizer que “Acredito que podemos produzir uma psicologia, defini-la como o fez Pillsbury e nunca recuarmos desta definição: nunca usarmos os termos consciência, estados mentais, mente, conteúdos introspectivamente verificáveis, imagética e assemelhados” (1913, p. 116). Osso duro de engolir! Estudar somente o comportamento! Psicólogos da velha-guarda provavelmente julgaram Watson meio maluco, mas os jovens psicólogos acorreram a ele em bandos e, ao longo dos anos, sua posição continuou a atrair adeptos convictos. (Roediger, 2004, p.1).

O grifo é um tipo de defesa ao behaviorismo, tirei os tanques de jogo.

"O behaviorismo pretendia fazer da psicologia uma ciência natural."(Roediger, 2004, p.2).

Tem algo mais lindo do que uma ciência natural? Enquanto isto, dualistas brigavam (e ainda brigam) com a introspecção, com suas interpolações metafóricas, com suas substâncias invisíveis e energias nunca provadas. Puro achismo do ponto de vista da ciência. O positivismo nunca aceitaria tal achismo como ciência, mas, continuando (isso é adição minha ao texto).

O autor continua escrevendo sobre o histórico do behaviorismo e citando grandes autores e contribuidores ao behaviorismo, tais como Tolman, Hull, Spence, e Pavlov até chegarmos a revolução, a um livro chamado "O comportamento dos organismos" de 1938, do papai Skinner.

"vejamos a caricatura da história da psicologia na qual parecem acreditar muitos dos psicólogos cognitivistas [...]. Nesta visão caricata, a Historia da Psicologia é alguma coisa equivalente à História da Civilização Ocidental e diz assim: os primeiros psicólogos, tais como Willian James, tinham grandes idéias e especulações e os psicólogos estudavam da melhor maneira possível fenômenos cognitivos, tais como imagética; James e seus colegas corresponderiam aos antigos Atenienses, talvez Sócrates, Platão e Aristóteles. Contudo, mais tarde, e devido a Watson, Skinner e outros da sua laia, a Idade das Trevas cobriu o mundo: a ortodoxia religiosa do Behaviorismo cobriu a terra e sufocou as concepções criativas sobre os fenômenos cognitivos e outros temas. Finalmente, a Renascença aconteceu no início dos anos 50, quando o trabalho experimental de George Miller, Donald Broadbent, Wendell Garner e outros, como também os escritos de Noam Chomsky, conduziram a psicologia para fora da idade negra e em direção à luz da revolução cognitiva. O movimento ganhou impulso nos anos 60 e[...]. O behaviorismo ainda vivia, durante os anos 60 e início dos anos 70, assim reza a estória, mas vistos os fatos a luz da atualidade, somente como um movimento intelectual de retaguarda, que estava em seus últimos suspiros de popularidade. Por volta da década de 1990, o domínio das abordagens cognitivas em quase todas as áreas da psicologia (até mesmo no aprendizado animal!) era quase completo."(Roediger, 2004, p.2).

Ele retoma a pergunta então, enfim, o que aconteceu com o Behaviorismo? Resumindo três possibilidades que ele levanta:

"Uma possibilidade é a de que o declínio do behaviorismo representou o advento de uma revolução intelectual e jovens cientistas, tal qual os jovens de todos os tempos, apreciam o inebriante fervor de uma revolução. Assim, tendo estado o behaviorismo em ascendência durante tanto tempo na psicologia, de maneira especial e principalmente na psicologia americana, os tempos estavam maduros para uma revolução intelectual. As análises dos primeiros psicólogos cognitivistas (Broadbent, Miller, Garner e outros) eram rigorosas, provocativas e abriam novas paisagens intelectuais." (Roediger, 2004, p.3).

Uma segunda razão possível é que, na década de 70, as análises behavioristas estavam se tornando por demais microscópicas. Como ocorre na maioria dos campos de estudo durante o seu desenvolvimento, os pesquisadores começaram a estudar cada vez mais e mais sobre cada vez menos e menos.(Roediger, 2004, p.3).

Esta última, não faz muito sentido:

Uma outra maneira pela qual o behaviorismo se perdeu é que muitos psicólogos (de maneira especial psicólogos cognitivistas) não focalizam a história de aprendizagem dos organismos. (Roediger, 2004, p.3).

E então, vem a chave de ouro, a terceira possibilidade:

"Uma terceira resposta é a de que não há nada de errado com o behaviorismo atual, obrigado por perguntar. A premissa inicial deste artigo está simplesmente errada. O Behaviorismo está vivo, passa bem e nada “aconteceu” a ele. O Journal of the Experimental Analysis of Behavior – agora editado pelo meu colega Len Green - continua sendo uma vitrina viva disto, como também o é o Journal of Applied Behavior Analysis. Estas duas revistas são publicadas pela Society for the Experimental Analysis of Behavior, que permanece forte e sadia desde 1957. O principal congresso dos behavioristas é o da Association for Behavior Analysis, ou ABA, que teve mais de 4 200 participantes em 2003 e que, no seu congresso de 2002, registrava 3 200 participantes. Incluindo as organizações afiliadas em todo o planeta, ela tem em torno de 12 000 associados (comunicação pessoal de Jack Marr). Ao longo dos anos, a ABA tem mostrado um crescimento espantoso e ainda atrai 250 novos membros a cada ano, somente nos Estados Unidos. Na Society for the Quantitive Analysis of Behavior, que realiza seu encontro antes e durante o congresso da ABA com seus próprios critérios matematicamente sofisticados de afiliação, muito dos trabalhos apresentados estão baseados em pesquisas com humanos (e não somente com pombos e ratos, conforme uma visão estereotipada sugeriria).
[...]
Por que este entusiasmo todo? Porque as análises comportamentais funcionam! Análises comportamentais existem também para programas de autodesenvolvimento, na indústria (Organizational Behavior Management), nos esportes, na educação de filhos e, é claro, no treinamento de animais de estimação e de zoológicos. Em qualquer situação na qual a predição e o controle do comportamento aberto seja importante, encontrar-se-ão análises comportamentais funcionando. Em suma, esta resposta afirma que o behaviorismo continua vivo e florescente, embora talvez não tanto em voga na profissão como esteve antes.
[...]
Uma outra formulação para a resposta anterior (devida a Endel Tulving) é a de que existem várias ciências psicológicas igualmente válidas. Num comentário enviado sobre um rascunho deste artigo ele diz que “Está bastante claro em 2004 que o termo “psicologia” agora designa pelo menos duas ciências bastante diferentes: uma do comportamento e outra da mente.[...] Ninguém jamais conseguirá juntar novamente estas duas psicologias, porque o seu objeto de estudo é diferente, seus interesses são diferentes e o entendimento do tipo de ciência com o qual elas trabalham é diferente. Por demais esclarecedor é o fato de que estas duas espécies se movimentaram para ocupar diferentes territórios, não dialogam uma com a outra (não mais) e seus membros não se associam. Este estado das coisas está exatamente do jeito que deve ser.” (Roediger, 2004, p.4).

Neste momento meus olhos já enchiam de lágrimas. É exatamente o que eu digo! EXATAMENTE. Com todas as palavras. Na verdade, eu seria ainda mais radical, não diria que são duas psicologias, é uma psicologia, que deveria morrer e nunca mais ser usada e uma ciência que como disse Skinner, é independente mas que está ao lado da biologia. Behaviorismo deveria ser uma faculdade independente e não ser ensinada como uma ou duas matérias quando muito por ano numa faculdade de psicologia. Se pouco dela se fala e já tem tantos adeptos, imaginem se invertermos os pólos! Quão brilhante seria!?

Para aqueles que estão cansados de ler sobre behaviorismo aqui, vão tomar um café! Por que eu vou continuar, meu entusiasmo nessa escrita não acabou e sabem por que? Por que o autor não acabou, ele continua com grande sabedoria ao dizer:

"Talvez a resposta mais radical que eu ofereço é que o behaviorismo é menos discutido e debatido hoje em dia porque, na verdade, ele venceu o debate intelectual. Num sentido muito real, todos os psicólogos contemporâneos – pelo menos aqueles que conduzem pesquisas empíricas – são behavioristas." (Roediger, 2004, p.5).

Ele fecha, com uma cesta que valeria num jogo de basquete, 50 pontos:

"O comportamento venceu."(Roediger, 2004, p.5).

Pra terminar, em relação aos cognitivistas que dizem que o Behaviorismo morreu:

"Leiam o livro [Ciência e Comportamento Humano] e celebrem o poder das análises comportamentais, mesmo se - e principalmente se - você for um daqueles psicólogos cognitivistas que acreditam que o behaviorismo é irrelevante, obsoleto e/ou que está morto; ele não está." (Roediger, 2004, p.6).

Enfim gente, esse artigo se fosse uma mulher pra mim, seria uma Malin Akerman.

Para terminar este post, não poderia de deixar de agradecer a Bruna que foi a responsável por esta deliciosa leitura. Apesar das nossas brigas, Bruna, você foi, é e citando Britney Spears, from the bottom of my broken heart será sim sempre uma grande amiga. Amiga de porrada, de discussão, de carinho, de respeito e todos seus negativos. Tudo junto e misturado. Fazendo o que a gente sabe de fazer melhor, perdoar e seguir em frente. =D
Como dizem, obrigado por existir.

1 comentários:

JessyMsP disse...

Foi só sugerir que deu vontade...VOU TOMAR MEU CAFÉZINHO... (srrsrsrsrs)Mas antes preciso dizer::::::::
Parabéns... foi um grande prazer intelectual ler todo o seu ponto de vista, me apaixonei por tudo o que disse.
Abraços

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